quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Típico


Típico

O amigo e colunista Valther Ostermann no Jornal de Santa Catarina de 19 de dezembro de 2007 explica que em dezembro de 2003 publicou um pequeno descritivo da rotina de um blumenauense típico, obediente à cultura local. Republicadoo texto é ótimo. Genial.

Não é fácil ser um blumenauense típico. Mal acaba de desembrulhar os presentes de Natal e já está carregando o carro, colchão enrolado em cima, o aparelho de TV acomodado entre a imensa bagagem, crianças, o cachorro, câmara de ar que será bóia, tudo socado, rumo à estrada que a praia está chamando. Fila na rodovia, calor danado, capaz de chover, pára de berrar, menino!, engarrafamento inevitável em Gaspar, quatro horas de viagem para um trecho tão curto, o chevetão só ferveu uma vez, enfim o mar. E então é aquilo de sempre, todos numa casa de dois quartos, a mulher trabalha feito uma moura, ele paga todas as despesas - o cunhado que sempre aparece nunca se coça - cadê o menino, pelo amor de Deus, eu disse para ficar olhando, picolé, areia na sunga, queimadura de sol, ui como arde, bota vinagre, o banheiro sempre ocupado, o cunhado é desregulado. Dormir amontoado não é mole, o cunhado é flatulento, pudera, come feito um cavalo, ainda se colaborasse, mosquitos, pagode no vizinho até de madrugada, mania de soltar foguetes. Quando acaba o feriadão repete-se a viagem, agora em sentido contrário, fila de novo, só deu um dia de sol, diabo de chuva, congestionamento irritante em Gaspar, o chevetão ferve, enfim o lar. Descarrega-se toda a tralha, cuidado com a TV, será que esquecemos alguma coisa? O menino! Cadê o Wanderson Kleyton? A mulher desmaia, a sogra abre falação, o cachorro mijou dentro do carro, calma, liga pro vizinho na praia, pra polícia, eu volto para buscar, alguém me empresta um carro que o chevetão está no bagaço. Leva um ano para curar o estresse das férias.

(foto arquivo site do Santa)