terça-feira, 15 de novembro de 2016

“ARMANDINHO E RENATO... “O Cavalo enguiçou....”

...feriado de 15 de Novembro...chuvoso...não pude ver à Super Lua ...estava aqui vendo postagens no Facebook e constatei a presença do Armando Gazolli “Armandinho”, primo querido da infância pelos pagos de São Joaquim...na Fazenda Santa Rita, hoje vivendo aposentado, no Espírito Santo...lá para as bandas de Linhares ! Entabulamos um “papo” e nos fomos para as aventuras de memórias ! Comecei dizendo a ele, que estava tomando cafezinho em xícara pequena...mastigando biscoitos e engordando, pois a chuva não nos deixou sair para caminhar . Lembrei então que outro dia, havia ganho um pacote de biscoito “sequilho”, cuja consistência é dura...cobertura de algo branco e que normalmente comemos, mergulhando no café para umedecer. Vô Boanerges (também conhecido por Tio Nejo ou Tio Borji) sentava-se à tarde, na mesa da cozinha, fumava um palheiro, e com o dedo indicador fazia uma caixa de fósforos “Pinheiro”, rodar no ar, batendo sobre um palito que ele, ajustava na caixa, de perfil, de tal maneira que ao bater no palito saliente, por efeito de alavanca, a caixa girava no ar...era um desafio de “mata-tempo”, para ver se a caixa cairia de pé e assim indefinidamente, repetia o gesto, enquanto ruminava “novos negócios”, para tocar a vida na “invernada de cima da Fazenda Santa Rita” ! Fazendo isso, gostava de prosear...e contou-nos um “causo” de que numa das andanças à cavalo, passando pela Fazenda dos Alemães da Água Buena...a Comadre que não lembro nome...ofereceu um cafezinho ao Tio Nejo...que apeou do cavalo...sentindo o cheiro gostoso do café da tarde. Foi lhe então ofertado um pires com sequilhos, biscoito famoso pela rigidez e que exigia um bom esforço para quebrar com a mão...e mergulhar no café. Os mais velhos...idosos da época...naquelas fazendas remotas...a maioria já não tinha a arcada dentária superior...era o caso de nosso avô. Então para comer o danado do biscoito...tinha que ser umedecido no café. São feitos redondos tipo rosca...guarda-se em uma cesta de palha, pendura em prego no alto da parede...onde as “crianças” não alcançam” nem subindo nos bancos ou cadeiras ! “duravam semanas”...o frio da região, ajudava endurecer e preservar. Tio Nejo, tentou quebrar com as mãos, mesmo com grande sforço...não conseguiu...resolveu então tentar quebrar batendo com força no banco de madeira, também não teve sucesso...então discretamente os colocou no bolso, para mais tarde usar martelo e quebrar...e não ofender a comadre. Ria muito quando contava o causo. Pois se a xícara não fosse pequeninha...e sim a xícara média...poderia mergulhar o biscoito e matar a vontade ! Armandinho e Renato, filhos de Tia “Cota” e Tio Armando, viviam em São Paulo, capital ...e nas férias escolares de Dezembro, chegavam de São Paulo e nós todos nos reuníamos na Santa Rita, casa de Vó Angelina e Vô Boanerges...era uma festa só ! “Derrubávamos a “véia” com nuca no fogão”...assim se expressava Vó Angelina. Vó Angelina, usava um turbante, sempre enrolado nos cabelos. Comidas deliciosas. Quando sentíamos o cheiro de café sendo torrado..sabíamos que ganharíamos as balas de açúcar grosso queimado ! Á noite, tradicionalmente o jantar era sôpa...canja de galinha e ovo cozido na sôpa...muita disputa, para com a concha “pescar um “ovinho”...pedaços de clara...Armandinho era especialista em pescar “ovinhos” ! Após a sôpa era tradicional “comer leite com colher em prato fundo”, com angu ! Festa maior quando Vó Angelina, anunciava que “hoje tem coalhada”, o iogurte caseiro, preservado em guampas penduradas nas paredes, condicionamento especial, que sorvíamos com várias colheradas de “açúcar grosso” (mascavo) ! Todas as tardes, adorávamos, “prender as vacas”, ir ao campo, à cavalo, encilhados ou “em pelo” , bancávamos os vaqueiros, os bezerros eram retidos no galpão e na manhã seguinte, de madrugada havia a “tirada do leite”. No potreiro atrás da casa, os “animais”, cavalos para a lida, eram mantidos por 2 semanas, para a lida diária. Soltavam-se e então eram substituídos, para que, os que ficavam no campo da fazenda, não se acostumassem à liberdade e ficassem “bardosos”, cheios de mania e revoltados, não respeitando aos comandos do cavaleiros, no manejo das rédeas ! Armandinho e Renato, chegando de São Paulo, foram logo encilhar o “bragado”, um alazão vermelho e branco, como o cavalo “Escoteiro” do zorro. Era um cavalo tinhoso...não apreciava ser manejado por crianças e cheio de “bardas” . Armandinho, “o mais velho”, montou primeiro para dar umas voltas, enquanto, Renato (Bilí), impaciente e irritado com a primogenitura do Armando...”sempre ele primeiro”, permaneceu sentado na varanda da casa, ao lado tia Cota e Vô Boanerges e todos nós, apreciando os “meninos da cidade grande”, cavalgarem. A volta com Bragado, era ir até o “rodeio”, na frente da “lavoura do pinheirão” e voltar...e deixar o Renato montar a sua vez. Armandinho, abusando da paciência do Renato, resolve volver o Bragado e dar mais uma volta...Renato saiu correndo atrás, agarrou o rabo do cavalo e puxava para impedir ! Foi uma gritaria geral, pois o bragado poderia escoicear para trás e seria um desastre ! Pois o Bragado, empacou...não andava. Armandinho batia com os estribos , imitando o gesto de esporas...o cavalo definitivamente, revoltado , não andava ! Armandinho, gritou: “Vó ! Vó ...o Bragado enguiçou” ! Foi gargalhada geral, rapidamente Neto e Nenê, meus Irmãos mais velhos, correram para apear o Armandinho e segurar o Bragado e puxá-lo com segurança até â casa, e o Rentato “bili”, felizmente poder dar sua volta ! Coisas das Saudades ! Adilson Tadeu Machado.