domingo, 25 de junho de 2017

...anjo por um dia.....

Do Paraíso ao Inferno...anjo por um dia...
Lembro que era domingo...1951 ou 1952...um remoto povoado de nome peculiar “Ermida”...Em São José do Cerrito (Carú), então Distrito do Município de Lages. Uma meia dúzia de casas... a igreja , a Escolinha...construções rústicas de madeira, Professôra Antônia,(normalista), minha mãe...lecionando na Escola Mista, alunos de várias séries primárias, na mesma sala. Aquele domingo, prometia ser diferente, minha mãe trabalhara várias noites, à luz de lamparina, montando um “par- de- asas-de-anjo”, de papelão, pintou de branco. Colava com amor, pequenas tiras de papel de sêda, todas brancas, dobradas e esticadas em lâmina redonda, de faca-de-mesa. Assim flexionadas, eram coladas no par-de-asas, como se fossem plumas. Meus Irmãos Boanerges (Neto)9 anos, Edson(Nenê)8 anos e eu, Tadeu(Jóia) 3 anos, olhávamos e ajudávamos como podíamos ! Neto e Nenê, vez por outra, lançavam olhares furtivos e marotos e eu não entendia o porquê. Domingo pela tardinha de verão, muito quente, estrada de rodagem de barro vermelho. Os devotos seguiam em procissão desde a Capela(Igreja) , em direção ao morro de Santa Cruz, estradinha cheia de curvas, até ao cume, onde uma capelinha, existente até hoje, com crucifixo, velas e placas de madeira, fotografias, agradecendo “graças alcançadas”. A Professôra Antônia, garbosa, puxava a cantoria, “Louvando Maria”...pouco atrás o “ANJO”, ...Eu, com o belo e pesado par-de-asas-de- anjo, amarrado com barbante nas minhas costas e cintura. Uma longa batina branca de Sêda. Na minha frente...”dois diabinhos¨: Neto e Nenê, olhavam para trás e sem minha mãe perceber, pronunciavam baixinho...”MENININHA”. Aludindo assim, que eu era uma “Menininha Anjo”. Aos berros, eu caminhava em minha penitência, minha mãe me censurava, dizendo que eu era “anjo menino”. Meus irmãos, quando podiam, sem ela perceber: “menino não usa vestido(batina), só menininha”. A garbosa professora, voltava um pouco atrás e dava discretos beliscões, para o anjo chorão, parar com o choro...”Homem não chora!”. Bastava ela sair de perto...e os “diabinhos” piscavam e balbuciavam “menininha!” e riam-se muito ! Assim minha via sacra, para passar pelas 12 estações, até ao alto na capelinha, foi um tormento. Só Jesus sabe ! Há 4 anos atrás...voltamos lá...o Anjo e os Diabinhos...o morro e capela estão lá...agora consigo rir, e consegui rir, com os diabinhos ! Você riu ? DIABINHO ! texto de ADILSON TADEU MACHADO - médico. (foto ilustração)