sábado, 12 de agosto de 2023

Dia dos Pais ...

Então, neste sábado cinzento...almoçamos com os netos de Blumenau. O neto gaúcho está lá pelos pagos...é que amanhã domingo, haja paciência para enfrentar filas e reservas. Fiquei por aqui conjecturando e lembrando do Pai, saudoso Edison e momentos que ficaram...principalmente pitorescos... Primeira lembrança, ele segurando o cabresto da égua tordilha que puxava uma “aranha”, charrete de tração com um animal só...apontava com o dedo, do alto da Serra do Rio do Rastro, dizendo lá na “serra-abaixo”...está a casa de seus avós(maternos), João Inácio e Clara (Clarinda),estávamos descendo à serra para visita, no Guatá, era mineiro, na exploração de carvão, para onde foram em busca de trabalho. Lembro do céu azul, da imensidão que não entendia, nuvens que dava para tocar com a mão...até hoje ali o céu está muito mais baixo, - Jesus aqui fica mais perto da gente – foi o que disse minha mãe ! Anos depois nos contou que desceu rezando o "terço-rosário", para que - a tordilha não desembestasse e nos jogasse no perau, hmmm verdade, Jesus táva mesmo perto ! Lembro do Pai Edison, envaidecido e chegando em casa, com a roupa coberta de poeira branca até no rosto, fora admitido para trabalhar de carteira assinada no Armazém Reembolsável, do 2.º Batalhão Rodoviário, em Lages, como “auxiliar de escritório”, mas “lotado” no Depósito-Almoxarifado, e descarregara seu primeiro caminhão de farinha de trigo, “auxiliar de escritório” era estivador, com muito orgulho ! Minha Mãe Antônia derrubava lágrimas, nós também, dali para frente o mundo mudou para nós ! 1960 foi então marcante ! Lembro no sítio, invernada de cima, férias de Julho, Fazenda Santa Rita... meu irmão “Neto”, chegando com a comitiva, fôra buscar as vacas, tarefa de toda tarde, adorávamos montar e fazer tal tarefa de vaqueiro, sentíamo-nos jovens “cowboys”... meu avô Boanerges então com 60 anos, estava a pé, envelhecido, encarquilhado, ausência de arcada dentária superior, fumante de palheiro de fumo em corda, arremessou seu laço e laçou pelas aspas, (coisa de guapo), uma vaca rebelde, ela “chascou” e meu avô sem “tirador” (avental de couro), tentou segurar só nos “tentos”, a vaca derrubou meu avô...meu Pai afastou o animal e socorreu meu avô...poucas escoriações...admirei então a destreza do Pai Edison, quando pulara à taipa, nunca vira aquilo e sua juventude aos 40 anos...encheu-me de orgulho... lamuriou baixinho só para mim: “velho que quer aparecer dá nisso”...aquela confidência em tom de voz baixa...fez-me cúmplice...uma cumplicidade de algo dirigido só para mim...meu parceirão...dura para sempre! Com Pai Edison, saído de cirurgia e quimioterapia fizemos uma volta ao mundo, e nos jardins do Palácio do Imperador do Japão (Tóquio) catou pedrinhas peculiares numa pequena bolsinha... – Pai, não sabemos se pode fazer isto, isto aqui é um local sagrado deles – hummm pois se me prenderem, vou pedir um sakê para o Imperador Hiroíto! Aqui tá muito frio ! As pedrinhas estão aqui em casa comigo e suas moedas ! Claro que amanhã Dia dos Pais, como agora, vai minha homenagem ao Pai Edison, Vô João Inácio (João Grande), Vô Boanerges (Tio Nejo) e a todos os Pais do Mundo. Blumenau, sábado, cinzento, 12 de Agosto de 2023. Adilson Tadeu Machado