terça-feira, 27 de maio de 2025
Personagem ...seu Fusca hoje completa 50 anos !
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Personagem ...seu Fusca hoje completa 50 anos ! texto do Adilson
Eu , nesta madrugada de 18/05/2025 ( 00:06 hs), embarco num momento saudosista, in memorian, afinal já escrevi sobre ele, por aqui e está no livro...como tantos outros...mas personagens, dizem que são fictícios...épicos...líricos ou dramáticos...
O meu não é fictício...foi de carne e osso...onde memória alcança...talvez 2 anos de idade, eu mordi pimentão na horta de casa da Ermida, achando que era “pemate” (tomate) ...risadas paterna e materna pelo meu erro de gulodice ...aprendendo nesta vida, que aquilo que parece apetitoso ...pode não ser...lembro que foi ardido e tive olhos turvos nas lágrimas e minhas cordas vocais soaram no choro alto (meu apelido de “berro-grosso’) seguiu-se por anos a fio...até na escola primária...incomodava um pouco...não era o que hoje dizem bullyng, minha companheira bulldog, nome da Mistura, (misto de manchas brancas e preta no pelo, nossa fêmea canina) bastava eu dar um comando...ela me defendia...meus colegas respeitavam a dupla do “berro grosso” e da “Mistura” ...teve quem ousou...ele pulou à cerca de sua casa...mas, Mistura rasgou aos fundilhos na calça do atrevido, respeito conquistado ! Voltando ao personagem, discorria com facilidade, causos de tropeadas, carreiras, viagens inúmeras, Serra do Rio do Rastro, desceu cavalgando com seu Pai (Boanerges), garupa do mesmo cavalo...1926 ou 1927... não lembro. Esteve por Brusque em talvez 1927 ou 1928 vindo por Angelina e Major Gercino...discorria inúmeras histórias de negociações de charque, novilhas, mulas, porcos etc...com trocas e escambio com os alemães-de-serra-abaixo. Em Brusque comprou picolé por quinhentos réis, guardou no pessuelo (alforje), embrulhado em papel de jornal, para levar para sua mãe em São Joaquim, pois nunca tinha visto um picolé ! Decepção no caminho, quando no primeiro acampamento de volta, foi mostrar ao seu pai, o presente de Brusque que levaria para sua mãe, encontrou ao pedaço de jornal umedecido pelo picolé derretido, o palito melado...muito choro, foi consolado pelo pai...um dia trariam a mãe para experimentar. O personagem, cresceu, foi “sorteado” para servir ao Exército em Florianópolis, então 14° Batalhão de Caçadores e ficou um ano como soldado em 1939. Fez curso de radiotelegrafista, no pelotão de comunicações. Quando deu baixa, apesar do convite para ficar trabalhando no Correios da capital, preferiu subir à serra, retornando às querências de São Joaquim da Costa da Serra, onde nascera em família numerosa , saudades e retorno. Na escola primária, conhecera uma menina de olhos azuis cinzentos, que para ajudar sustentar família, ela vendia bala de puxa-puxa, no recreio, sempre arranjava tostões então para comprar às guloseimas...e rever à paixão. Agora jovem homem, forjado no Verde Oliva, a namorada agora Professora Normalista, a pediu em casamento no ano 1941.
O personagem Edison (meu pai) , por ser reservista do Exército, é convocado para 2ª Guerra Mundial, e deixa esposa grávida em São Joaquim e apresenta-se à calorenta Blumenau, para treinamento militar, em Janeiro 1943...e permaneceria aqui, Blumenau, no 32º Batalhão de Caçadores, aguardando término de preparação, para embarcar para Itália, onde viajariam de trem e depois em navio.
Poucos dias faltando para embarque, houve decreto do governo brasileiro, isentando reservistas que tivessem contraído matrimônio desde ano de 1941 e tivessem filhos. Com telegrama e carta vinda de São Joaquim, contendo Certidão de Casamento e declaração assinada por médico, relatando gestação da esposa, o reservista Edison foi dispensado, de seguir para campos da Itália...retornou à São Joaquim, indo de trem até Rio do Sul e depois a pé e caronas de carroças ou cavalos entre Ituporanga, Bom Retiro. Os anos passam, viveu vida de comerciante, agricultor, pelos campos de fazenda de tios...sem emprego fixo, a esposa fôra aposentada como professora normalista, após 2 anos internada em Sanatório para Tuberculosos, e o meio salário mínimo do “pagamento” do Estado SC, parcamente sustentava à família Muitas dificuldades, com 4 filhos, em 1960 consegue então trabalhar como “chapa”, descarregando caminhões de sacaria (arroz, feijão , no Armazém Reembolsável do Exército atendia militares e civis do 2º Batalhão Rodoviário, Lages SC, onde construíram parte da BR-116 e mais tarde terraplenagem para Tronco Principal Sul (Ferrovia) ...ferrovia desativada pelo que vi, tristemente agora no mês de Abril/Maio 2025...quanto trabalho, braços e suor desrespeitados, por visão míope de politiqueiros que grassam !
O convênio do 2º Batalhão Rodoviário, com então DNER, Edison é aposentado em 1987 por neoplasia gástrica(fez gastrectomia sub-total – 2/3 do estômago e nefrectomia esquerda (rim)..., fez uma sessão de quimioterapia, somente e fugiu do Hospital, pois ao saber que se tratava de quimioterapia, de então, disse que preferia viver, ao pouco que lhe restava com alguma qualidade de vida. Tinha seu fusca ano 1975, comprado zero km,em 18 de Maio de 1975, sua paixão para passear pelas estradas onde na infância cavalgara com seu pai em tantas tropeadas...e que dirigiu até 2003, muito bem. Telefonou-me retornando de Caxias do Sul RS, - Filho, meu câncer voltou, veio dirigindo à Florianópolis e por quase 3 meses peregrinou por novas cirurgias. Até que nos deixou... e nos deixou uma saudade enorme. Pedi a meus irmãos que deixassem-me dirigindo e cuidando do “melhor carro do mundo”, era assim que carinhosamente tratava. Hoje o fusca completa 50 anos, exatamente hoje, muitas histórias e estórias, segue conosco por aventuras...de tropeadas como as que gostava...seguiremos assim levando à tradição e os eventos que este Fusca já viveu. Seguirá em frente com os herdeiros...a vida segue ! Deus abençoe Edison (Meu Querido Pai)...Bênção Meu Pai...”Bom dia Meu filho, Bênção de Deus ! Louvado seja !