sábado, 3 de junho de 2017

A ENCHENTE QUE EU VI.

A ENCHENTE QUE EU VI...JULHO DE 1983 ..”Doação da Johnson & Johnson” ... “POLITICAGEM PICARETA" .
O Vale do Itajaí, estava na mídia...imagens, estarrecedoras de casa desabando...animais mortos, sorvidos em redemoinhos...sobrevôos de helicópteros...áreas inundadas. O primeiro socorro militar, viera de Florianópolis, do Hospital da Guarnição do Exército Brasileiro, enviou duas viaturas pick-up, com uma pequena caixa de medicamentos do Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército, com xaropes e anti-diarreicos, forneciam, o que tinham em disponibilidade. Os militares dirigiram seus veículos por estradas alagadas, enormes dificuldades. Passando por Brusque, vieram a Blumenau, utilizando o caminho por Guabiruba, estrada secundária de 20 km, pela mata atlântica exuberante, muito barro e curvas. Uma das viaturas, em noite escura, derrapa, sai da estrada e despenca em despenhadeiro. Um Sargento sofre esmagamento de tórax, com fratura de várias costelas. Resgatado por companheiros da outra viatura militar, nos é trazido para a Enfermaria do 23.BI. onde aplicamos os primeiros cuidados. No dia seguinte, é transportado, por helicóptero para Florianópolis, onde recuperou-se após longa permanência hospitalar. Recebo na Enfermaria, um telefonema do Coronel Barreto, por volta das 22 horas, para dirigir-me à sala do Telex. O Diretor de R.H, da Empresa Johnson & Johnson de São José dos Campos SP, queria falar comigo, no outro lado da linha. O Telex, fôra instalado pela TELESC, com ajuda da Dra. Cleusa T. M. Longo, advogada que atuava na diretoria técnica, com isto aumentando nossa capacidade de comunicação, além do Serviço de Radio-amadores, coordenado pelo então Major Dentista Radioamador PP5MT Mansueto TONTINI. Em São José dos Campos, o Diretor de R.H. perguntava-me, se aceitaria a doação, um material de segunda linha (qualidade), como esparadrapo, faixas de gaze com gesso e absorventes higiênicos, totalizando 10 toneladas, interessava ao Batalhão para distribuir à população flagelada. Aceitamos de imediato, e orientamos a dispor em pacotes de até 800 Kg (capacidade do Helicóptero para transporte) e enviar para o aeroporto de Navegantes, escrevendo no lado externo das caixas: “23º BI – BLUMENAU – MEDICAMENTOS URGENTE”. No dia Seguinte o Diretor de R.H. da Johson & Johnson, nos informava que a carga viera pela VARIG, mas que o destino era Florianópolis, pois o aeroporto de Navegantes, por decisão de comando, só estava operando com aeronaves militares para carga e descarga. Em Florianópolis, reinava um caos de logística na COMDEC, que provisoriamente funcionava no Terminal Rita Maria, e tínhamos conhecimento. Com autorização do Comandante Cel Barreto, nos deslocamos de helicóptero até Navegantes e de lá para Florianópolis em um bi-motor do Banco Bradesco, transportava malotes do banco e nos ofereceu a carona. Na Base Aérea de Florianópolis, recebi a ajuda do Major da Aeronáutica Aberaldo RAFFS Machado, comandante do Núcleo de Proteção ao vôo, que me forneceu uma Kombi e o número das placas dos caminhões que levaram a carga da VARIG para o Terminal Rita Maria. No Terminal, encontrei os caminhões, com a “preciosa carga”, 23° BI – BLUMENAU – MEDICAMENTOS URGENTE”, em caminhões destinados para duas cidades do oeste catarinense que não estavam sofrendo com enchentes. Com a ajuda de uma viatura do Exército – 62° BI de Florianópolis, retiramos os caminhões diretamente para o pátio do Batalhão de Florianópolis. Descarregamos dos caminhões civis e o colocamos em caminhões do Exército, com rodado mais alto e aptos a transcursos dágua e trouxemos a Blumenau, percorrendo caminhos de Brusque e Guabiruba. Difícil...mas chegamos. A carga foi colocada em depósito da Enfermaria do 23°BI e distribuída mediante recibo a todos os hospitais da região, assim que as águas baixaram. Visitando nosso Batalhão, o Governador do Estado da época, foi com seus assessores ver a carga, a meu convite, na enfermaria. Depois de visto, um dos assessores em “alto e bom tom”...tentou capitalizar: “Tenente, esta carga é resultado de um pedido do nosso Governador, à Johnson & Johnson”. No “ MESMO TOM” respondemos: “NÃO SENHOR...ISSO É UMA DOAÇÃO ESPONTÂNEA DAQUELA EMPRESA, INDEPENDENTE DE POLÍTICOS QUE SEQUER, SABEM DA EXISTÊNCIA DA EMPRESA E O DIÁLOGO TRAVADO COM O BATALHÃO”. O assessor colocou sua “viola”, no saco e recebeu uma reprimenda discreta do Governador. Dias antes, “voluntários políticos” com camisetas do PMDB,(local... era o partido do Prefeito) apresentaram-se no Batalhão, para “ajudarem” aos soldados, a distribuírem alimentos e água aos civis...queriam ficar visíveis, nas redes de TV que diariamente filmavam reportagens, no Batalhão. Coronel Barreto entregou uma Camiseta do 23º BI, a cada um deles e disse...”querem trabalhar conosco ? ...sejam benvindos, mas a Camiseta aqui é do Brasil, vistam esta Camiseta do Exército Brasileiro, sobre a camiseta de “politicagem” de vocês ! E assim não ficaram um dia sequer ajudando ! Já viram este filme ? - texto de Adilson Tadeu Machado - médico.