domingo, 3 de setembro de 2017

Texto do ADILSON.

Uma História de Caserna...”Tributo in Memorian – IVO BRASSIDES WEIMER”.
Conheci ao Ivo, ano de 1966, éramos integrantes da Companhia de Comunicações, na Escola de Sargentos das Armas, em Três Corações MG. No primeiro semestre escolar, como não tínhamos especialidades de Armas definidas ainda (Infantaria, Engenharia, Artilharia, Cavalaria e Comunicações), éramos “arranchados”, nos alojamentos das Companhias como se tal Arma já integrássemos. Ivo, no alto de seus 2 metros de altura, loiro, olhos azuis, um sorriso bonachão, sotaque gaúcho de colono, do interior, nascido em Frederico Westphalen RS, conquistava a todos pela simpatia. Em conjunto com nosso time de Basquete da Companhia de Comunicações, conquistamos a Olimpíada Interna da EsSA. Ele e o Roberto, outro jogador carioca com 2 metros, foram os astros do Dream Team das Comunicações no ano de 1966. Quis o destino, que nos classificássemos para a Especialidade de Radiotelegrafia, com mais 8 colegas, curso que finalizamos no Rio de Janeiro na Escola de Comunicações do Exército, na Vila Militar, em Deodoro, Zona Norte do Rio RJ. Nossa saída de Três Corações foi em trem, 2 vagões lotados de Alunos militares que classificados por especialidades, seguimos pela Serra da Mantiqueira em memorável viagem de 16 horas. Ao sairmos de Três Corações, recebemos as “rações”, alimentação, um sanduíche de pão com mortadela e manteiga, dois ovos cozidos e duas laranjas. (Almoço e Jantar). Com isto viajaríamos até ao Rio de Janeiro. Já no caminho surgiam as “trocas”...quem não gostava de ovo, trocava por laranja, ou pedaço de sanduíche. Ivo acumulou um farto estoque de “ovos”. Já no caminho, ao longo do trecho, não era possível, sentar-se ao lado do Gaúcho...era farto o bombardeio flatulento e o odor insuportável. Banco vazio ao redor dele, fazia com que civis, que embarcavam nas paradas de trem, em cidades do interior, sentassem ao lado do simpático “alemão”. Todos nós à distância, divertíamo-nos, nas apostas, de por quanto tempo os “paisanos”, aguentariam ao Alemão. Serra da Mantiqueira...muitos túneis...momento ideal de Ivo despejar suas granadas flatulentas, cujos ruídos, eram festejados aos gritos de “hurra”, pelos demais “milicos” às gargalhadas ! No Rio de Janeiro, nos integramos à nova Escola. Corpo Militar, pequeno, nas especialidades de Mecânico de Rádio e de Radiotelegrafia. 36 alunos , utilizávamos alojamento único, camas e armários de aço. Os toques de Alvorada (às 06:00 horas) e o de Silêncio (às 22:00 horas) era feito, por uma central, onde um toca-disco, ligado a altofalantes no pátio, repetiam ao som de clarim. Disco velho e desgastado, desafinava o toque...ouvíamos primeiro, ao chiado do disco compacto, para depois o som do clarim. Quando surgia o chiado, costumávamos bater as palmas das mãos, sobre as pernas, imitando galos, batendo asas, como se preparando para o canto matinal ! Divertíamo-nos ! Isto levou a Direção adquirir equipamento novos ! Ivo, não se sentia confortável na cama de aço. Dimensão menor que sua estatura era um sofrimento para acomodação. A atrapalhar tudo isso, um córrego poluído, nos fundos da Escola, fornecia no calor carioca, um estoque monumental de pernilongos, cuja pele branca do alemão, era um alvo predileto a cada noite aos infernais ataques. Belo fim de semana, encontramos o alemão Ivo, exultante, costurando um mosquiteiro de filó. De agulha, dedal , tesoura e linha, o alemão havia recebido dinheiro da família e comprara o “material de defesa”. Todas as noites, pouco tempo antes do Toque de Silêncio acontecer, o ritual do Ivo, montando o mosquiteiro sobre seu leito, era repetido. Profunda inveja dos “companheiros de alojamento”. Veio o “contra-ataque”. Durante o dia, nos intervalos dos “tempos” de aula, surgiram caçadores de “mosquitos e mariposas”, no pátio da Escola, guardávamos em “caixa de fósforos”, era a “munição de ataque ao Mosquiteiro do Ivo”. Hábito salutar, todos tinham que fazer higiene bucal, (escovar dentes) e tomar banho antes do toque de Silêncio. Os “guerrilheiros”, esperavam o alemão Ivo ir para o banheiro, abriam debaixo da cama, com o mosquiteiro armado, toda a “munição capturada” durante o dia. Como a Luz é apagada no toque de Silêncio e ninguém mais pode fazer barulho, contava-se os minutos, após o Ivo deitar-se, para que ouvíssemos o berro de “FILHOS DA PUUUUTA” do alemão. Era um pandemônio de gargalhadas...e o Aluno Plantão do Alojamento, desesperado tentando manter o Silêncio para não ser punido pelo Oficial de Dia. Querido Alemão nos deixou, recente. Médico Veterinário, Oficial do Exército Brasileiro, fiz contato por telefone há algum tempo, com ele 40 anos depois...ao atender o Telefone eu disse: “Você ainda usa mosquiteiro?...Sou um dos que largavam mosquitos sob sua cama...ele com aquele sotaque clássico alemão colono..."ENTÃO TU ÉS UM FILHO DA PUUUTA ! ". Rimos e choramos. Saudades !