sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Grande Jornal Falado

“Grande Jornal Falado – Rádio Clube de Lages ! “ - 720 Khz – Ondas Curtas, Médias e Longas-
1965... mês de janeiro, .ao meio-dia, na mesa de almoço, ouvíamos o velho rádio ZENITH, sintonizado na Rádio Clube. Notícias gerais e locais, depois seção de “Avisos” ! “Alô Fazenda Santa Rita, atenção Sr Boanerges, sua filha Selma, avisa que entregou os queijos no mercado!” Avisa que a encomenda segue com Sêo Tiãozinho, ônibus das 16 horas. Esperar no Portão Encarnado ! “Avisa também que encomendou a missa, no nome da tia Mariquinha. Assim, em seguida o “Comunicado”: Em tão solene o locutor anuncia: “ O Comandante do 2º Batalhão Rodoviário, comunica que estão abertas as inscrições, para o Concurso para a Escola de Sargentos das Armas do Exército Brasileiro. Jovens, sexo masculino da Classe de 1942 a 1948, poderão inscrever-se.” Falei, então...”eu posso fazer...eu nasci em Dezembro de 1948” – Claro que pode!...respondeu meu Pai ! Fui no dia seguinte, no ônibus N4 (transportava funcionários civis- meu pai um deles), de carona, fazer ao Alistamento Militar, documento obrigatório ao Concurso! No Batalhão fui assessorado, pelo meu primeiro Irmão Boanerges (Cabo do Exército – Posto de Enfermeiro) ostentando uma Divisa de 2 listras, com uma cruz vermelha bordada, eu tinha e tenho uma admiração eterna por aquela divisa ! Chegamos na Seção de Alistamento, eu ainda com 16 anos , recebeu-nos o Sub Tenente Unildo Belling: “Cabo Boanerges, o que deseja ?” – “Vim trazer meu Irmão Adilson, quer se alistar e fazer concurso público para E.S.A (Escola de Sargentos das Armas). “Hmmm... vamos lá ! “Sr. Adilson, por que, o Sr quer entrar para o Exército? “ ...”Bem...eu quero ser Sargento, estudar para ser médico e depois dar baixa !” Sub Tenente Unildo, franzindo sobrancelhas, sorriso meio maroto ...”...o cara nem entrou e já quer dar baixa?” - Ouvi gargalhadas e acho que meu mano, ficou meio constrangido com minha resposta. Percebi que havia dito “alguma asneira” ! Feita inscrição, recebi o programa com as Disciplinas e o conteúdo exigido no concurso, nível ginasial. Aritimética, Álgebra, Geometria,(Livros de Osvaldo Sangiorgi) Portugues (Gramática de Napoleão Mendes de Almeida), Geografia (Laplace) História do Brasil e Geral (Antônio Borges Hermida). Estudante primeiro Científico, do GD (Ginásio Diocesano) fui, na praça João Costa, conversar com um colega, o “Índio”, não lembro o nome, que estudara comigo no Vidal Ramos, onde concluíramos a quarta série ginasial, ano anterior. Tinha este apelido por ter olhos amendoados e cabelos pretos e lisos, e que fizera o concurso no ano anterior e não fôra aprovado. “Bicho...é o seguinte tá ! Este concurso aí, é muito difícil, as matérias aí exigidas, o nível que aprendemos é muito baixo na nossa escola...matemática então, é um terror, nem adianta tentar, aqui em Lages ninguém passou ! " Saí cabisbaixo...eu colocara o CAM, (Certificado de Alistamento Militar), com foto 3 x 4, na prateleira da cristaleira da sala de minha mãe, entre as “louças finas para visitas”, estava o CAM em exposição, assim as visitas perguntavam e eu respondia garboso...vou fazer este concurso ! “Olhei triste para o CAM, caramba e agora ? Acho que vou desistir...! Falei com minha mãe...”acho que vou me inscrever para o Concurso da Escola de Sargentos Especialistas da Aeronáutica “ ...ela me olhou de soslaio...e disse: “trate de deixar de ser malandro, pegue nos livros e se prepare para o concurso que se inscreveu”, “Seu pai não vai dar dinheiro para outra inscrição” ! Viixxe ! Aquela reprimenda “doeu”. Peguei os livros de Matemática desde a primeira série, ficavam numa prateleira no nosso quarto dos “guris”, no sótão, era de madeira de caixa de maçãs, pintada de verde. Comecei a resolver todos os exercícios de cada lição. Organizei uma “Caderneta das Lojas Renner – tipo livro de bolso, meu Tio Zéca, “chofer de praça”, presenteara-me. Fiz um formulário para anotar “decorar”, fórmulas de matemática. Assim fui, paulatinamente. Descobri que acordar às 4 horas da matina, sem energia elétrica, acendia uma vela na mesa da cozinha, fazia meus exercícios.Foi um jornada de Janeiro ao mês de julho quando fizemos as provas. A Energia Eletrica da Usina, salto do Caveiras, apagava à meia noite ou era muito “fraquinha” ! - Vocês já conseguiram ler com velas , quando a chama treme ? “Embaralha às vistas” . Minha mãe colocava um tijolo no forno do “fogão à lenha”, assim sentado na cadeira de palha, pés no tijolo, fugia do frio da geada, na madrugada. Criei a rotina ! Fiz o concurso. Em Outubro, por radiograma, o Batalhão recebeu a lista dos aprovados eu e o candidato Dimas Fogagnolli. Lembro que as provas foram no “Rancho – Refeitório do Batalhão”. As mesas estavam lotadas de candidatos militares e civis. Indo para Três Corações, Minas Gerais, lá nos encontramos com candidatos aprovados, de todos os Estados Brasileiros, na E.S.A. Tivemos 2 semanas de testes Psicológicos, meu primeiro contato com Teste de Rorschach(terror dos concurseiros). A vida seguiu...12 anos depois, Dezembro de 1977. Segundo Sargento Radiotelegrafista, graduava-me médico na Universidade Federal do Paraná ! Durante 11 anos, perseguindo um sonho...à noite trabalhando como Radiotelegrafista...durante o dia no Hospital de Clínicas...muitos plantões...escalas de Serviço na estação de rádio trocadas...e em aí começa outra História ! Se você pode...você pode ! Se não pode...é decisão sua ! Não é ? Obrigado por lerem até aqui ! “E O PÓ VOLTE À TERRA, COMO O ERA, E O ESPÍRITO VOLTE A DEUS, QUE O DEU. VAIDADE DE VAIDADES, DIZ O PREGADOR, TUDO É VAIDADE” Eclesiastes 12, 7-8. Texto do Dr. Adilson Tadeu Machado.