sábado, 7 de janeiro de 2017
POTREIRO DO TIO CHICO
Meu amigo JOSÉ CLÁUDIO MOR PANSARD, hoje, postava fotos da região de Cambará do Sul – RS, região maravilhosa dos Aparados da Serra, com atrações como Itaimbezinho, , Canyon Fortaleza e tantas belezas mais. Trouxe-me a nostalgia, na lembrança de uma última viagem que fizera, de automóvel, anos 90, com meu velho Pai Edison e os manos Boanerges(Neto) e Edson Filho (Nenê). Saíramos de Florianópolis e em Laguna, passamos pela balsa no canal que separa a cidade, da região do Farol de Santa Marta. Visitamos ao farol. Seguimos pelo Camacho, Jaguaruna, saímos novamente na BR-101 e no trevo de São João do Sul, logo depois do trevo de Araranguá, seguimos para Praia Grande. Com o slogan: ‘de nem praia ...nem grande”, bucólico local,à beira do rio Mampituba, onde passamos o resto da tarde e a noite. . Praia Grande- SC, fica no “pé da Serra do Faxinal”...basta você subir e deparar com o famoso Parque do Itaimbezinho. Os famosos Canyons, onde as encostas são “Santa Catarina” e o topo dos Aparados são “Rio Grande do Sul”. Visitamos o Parque. Belíssimo...uma experiência inolvidável. No caminho chegamos à Cambará do Sul, . Cidadezinha gaúcha, visitada por meu Pai, no passado, na negociação de compra de gado, para vender “serra abaixo” ou mesmo comprar terneiros, para engorda em São Joaquim. Ia olhando as antigas construções de madeira, identificando cada morada e mencionando nome de antigos proprietários e comerciantes. Paramos na Churrascaria Feitiço Serrano, e saboreamos uma picanha feita em pratos de ferro. Um gaiteiro, rasgava seu acordeão. Assim que nos debruçamos para um cafezinho, o gaiteiro deslanchou com a música “Prenda Minha”. Meu velho Pai, debulhou-se em lágrimas. Nos explicava que esta era a música e canção com que bailara, pela primeira vez com nossa mãe Antônia, nos anos 40 em São Joaquim. Este almoço acontecera depois das 15:00 horas, pois havíamos dispendido tempo da manhã e parte da tarde, no Parque Itaimbezinho. Terminando ao almoço, tratamos de procurar a Pousada das Coricacas, não longe do centro, na sede da fazenda que leva o mesmo nome “..das Coricacas”. Temperatura por volta dos 12 graus, mês de Maio, prenúncio de geada, tarde friorenta, pés gelando. Alojados na Pousada, nos foi avisado, de que a sôpa e café da noite, seriam servidos às 20:00 horas. Quem quisesse, poderia depois do chuveiro, matear na cozinha, onde havia água quente, cuia e erva em volta do fogão à lenha. Após uma ducha quente, nos reunimos na grande cozinha da fazenda, fogão à lenha quase central, onde as cadeiras ficaram ao redor e todos podíamos prosear. Encontramos lá, além do pessoal que cuidava de preparar a bóia, um senhor pilchado como vaqueiro típico da região. Sentado em um banco de madeira, pitava seu palheiro e mateava, absorto num mundo de silêncio. Fomos avisados de que se tratava do proprietário e que sofrera uma queda de cavalo, há alguns meses, em concurso de laço, em uma competição em Caxias do Sul. Com o traumatismo craniano, ficara em estado de coma por alguns meses e não se recuperara de todo, perdendo parte da memória recente e ficando impossibilitado a continuar suas competições de hábil laçador em competições de CTGs da região. Meu Pai, abrindo prosa, nos contava de inúmeras viagens que fizera na juventude à região, vindo de São Joaquim SC, à cavalo, em busca de negócios de gado. Tentando arrancar o proprietário do seu silêncio, absorto, começou a buscar conversa , com ele, Papai interrogava por notícias de velhos moradores. Meu Pai, aproximava-se da oitava década de vida,. O proprietário , mais jovem, beirando aos 65 anos, respondia por monossílabos ou pequenas frases, as vezes com olhar ausente, mas seguro nas curtas respostas. Meu Pai: - “ o senhor me dá notícia do Sêo Firmino que era dono da venda , casa Amarela na esquina? “ 0 proprietário: - resmungando: “foi morar no potreiro do Tio Chico!” E assim a prosa ia seguindo, com meu Pai interrogando, e a resposta por cada morador antigo, era invariável: “ ESTE TAMBÉM FOI MORAR NO POTREIRO DO TIO CHICO !” . Curioso com as respostas, meti-me na prosa ...e disparei . “Sr Fulano...este TIO CHICO é ALGUM FAZENDEIRO AQUI DA REGIÃO? “ - Ele calmamente, enrolando a palha de novo cigarro, pela primeira vez me olhou e disparou: “ NÃO SÊO MOÇO...É O COVEIRO DE CAMBARÁ ...TEU PAI SÓ ME PERGUNTA POR QUEM JÁ MORREU ! “ . Explosão de gargalhadas e nos fomos, "tomar canja e comer coalhada", com açúcar grosso ! Texto de Adilson Tadeu Machado.