domingo, 1 de novembro de 2020
Texto do Dr. Adilson
... coisas do Código Morse !
Nossa turma de Radiotelegrafistas 1966, na Escola de Comunicações do Exército – Rio de Janeiro, éramos 10 alunos oriundos da Escola de Sargentos das Armas – Três Corações MG. Havíamos sido selecionados num teste de som em Minas Gerais. Na escola, no Rio RJ, encontramos já 3 profissionais, antigos, que estavam mudando de “qualificação militar” e fizeram o curso conosco, de maio a dezembro de 1966. Tempos inolvidáveis. O aprendizado do Código, era feito por repetição de som, que recebíamos em fone de ouvido, nas mesas de Manipulação e Recepção ao som. O som, era reproduzido através de uma fita impressa, que ao passar por um sensor de célula foto-elétrica, emitia. Havia um pequeno intervalo entre o som, e a voz do Instrutor-Monitor, que ditava, qual letra ou algarismo fôra emitido. Exemplo: .- (ponto traço) é letra “A”. O Instrutor ditava em voz: “ALFA !” que no alfabeto fonético corresponde a letra “A”. Assim: Alfa (A), Beta (B), C (Charlie) ...etc. Assim, a repetição do som, nós memorizávamos e o “mote” era escrever a letra antes do Instrutor-Monitor ditar qual letra ou algarismo fôra emitido. Aprendíamos 5 letras ou algarismos de cada vez. 2 horas de aula pela manhã e 2 horas à tarde de Manipulação e Recepção ao som. Demais horas de aula, eram de Datilografia e técnica básica de eletrônica e manutenção de Rádios de Transmissão e Recepção e outras disciplinas técnicas para vida militar !
O som era aprendido, só a música. Quantos pontos ou traços tinha cada algarismo ou letra, não sabíamos. Nos ensinavam que o som de “ponto”, era como se o ponto fosse “dit” e o traço “dá”, correspondente ao espaço de 3 pontos. Assim a letra “A” .- era um “dit-dá” (ponto e traço). Algumas letras como o “L” .-.. (dit dá dit dit) tinham associações mnemômetras como “vem cá Lili” , ou a letra “U” – “urubú” ...e assim de “macete em macete”, aprendíamos a ouvir (recepção). A manipulação (transmissão) era aprendida em manipuladores – chaves, onde você “manipula”, fechando e abrindo circuito num oscilador, que reproduz o som. No código “Q” internacional, diz-se que a “Manipulação” é QSD. Cada radiotelegrafista tem seu jeito, maneira de manipular. Isto é característico.Como se fosse sua “caligrafia própria”. Ao longo dos anos, ao entrar em contato com a estação de outro lado da linha, dependendo da manipulação,(QSD) sabíamos quem era o operador do outro lado. Uns mais velozes, outros mais lentos ! Ao longo dos anos, no tráfego intenso de 6 horas diárias, enviando e recebendo mensagens, desenvolvemos à recepção “on head”. Seu cérebro é capaz de estar mandando você datilografar frases com 4 a 5 palavras atrasadas, enquanto a mensagem já está 4 a 5 palavras na frente !”. Quando se deixa a escola, após término do curso, somos chamados de “focas”, diziam que as focas não tem boa audição, por não terem orelhas. Trabalhávamos devagar e isto atrapalha os operadores antigos que não tenham paciência com novatos. Ser chamado de “foca” na linha, é ofensivo. Alguns por alguma razão, continuavam “focas” a vida toda. Algumas histórias eram deliciosas de “causos” no Serviço Rádio. Lembro de um Operador de Sete Lagoas MG, que viera transferido para Estação Rádio PR-1 de Curitiba, “foca”, gente fina e excelente trato, mas sofria muito por pouca habilidade de recepção e manipulação. O Banco do Brasil, liberava mensagens planilhadas, chamadas de “Satélite”, para as unidades militares fazerem seus pagamentos. Todo mês, época do pagamento dos militares, recebíamos e transmitíamos centenas de mensagens, para a “Tesouraria”. Mensagens cheias de números e pontos. Exemplo: ‘Verba “5.1 4.8 7.3 5.2” , o diacho é que se você errasse um número deste... não “teria pagamento”, pois não conciliavam os códigos no Banco. A transmissão da época era pelo “éter”, não havia transmissões por satélites (micro-ondas), os sinais telegráficos eram interrompidos, por fenômenos atmosféricos, raios, etc que “cortavam” os sinais. E qualquer sinal, perdido, redunda num erro, que não permitirá a continuidade da planilha do banco. Era um inferno, se a “propagação do som” estivesse difícil, pois a cada dia muda ! Para os “focas” isto era um suplício. O Oficial, Chefe de Turma dos operadores de rádio de cada dia, avisava: “Hoje tem Satélite de Pagamento vindo de Porto Alegre (3º Exército). Quem está na “posição da PA-1 (Porto Alegre)” para receber ? - Tenente, é o “sete lagoas”... - - - troquem a posição dele, senão ... não teremos pagamento amanhã ! Talvez vocês não achem “graça” nisso...mas era muito divertido. Sete Lagoas, podia ser “foca”, mas era um bem sucedido, “negociador” de automóveis (compra e venda), excelente padrão de vida e ajudava muitos operadores em dificuldades financeiras. Grandes Saudades do Serviço Rádio do Ministério do Exército. Amigos em todos os cantos. Até hoje curto o meu “morse”, nas faixas de radioamadores.
Na Rússia, as crianças de Jardim de Infância, aprendem a se comunicar em Código Morse, em estações especialmente montadas. Isto está no You-Tube. Fantástico. Bom dia ! Forte 73 a todos (73 é abraço no Morse). Domingo 01/NOV/2020. Dia nosso ... “dos santos”