sábado, 31 de julho de 2021

Nevasca de 57 - Dr.Adilson Tadeu Machado.

NEVASCA EM SÃO JOAQUIM SC, JULHO DE 1955 !
Aqui nasceram meus Pais (Edison e Antônia e meus Irmãos Boanerges e Edson Filho. Julho de 1955. Sou o terceiro filho. Naquele Julho maravilhoso, último dias de férias escolares, eu com 7 anos e 7 meses, na casa de meu avô Boanerges, Fazenda Santa Rita, Invernada de cima. Casa simples de madeira, telhado em “V” invertido de telhas, no “puxado” coberto de tabuinhas,(cortadas de pinheiro), ficava a cozinha ! Ao lado da cozinha, separada por um corredor piso de pedras irregulares de 2 metros de largura, ficava o galpão. Ali nossos adoráveis cômodos: Fogo de chão, um pequeno deque de tábuas farquejadas, um balcão de divisórias para mantimentos(Açucar grosso, farinha, arroz, fubá etc), sobre o deque algumas “carradas” de carro de boi de pinhão de várias safras. Girau com alfafa, aveia e espigas de milho. Varava-se às noite, debulhando milho (para criação: galinhas e porcos) e separando palhas macias de espigas de milho, para cigarros de palha(palheiros) do Vô Boanerges. – “ahh estes meus netos sabem separar bem, as melhores palhas” – delícia de ouvir estes elogios. Aquela tarde cinzenta, tempo fechado, muito frio, nuvens negras, principiam a cair “capuchos de neve”... corremos para porteira do galpão, subimos nas varas e ficávamos maravilhados com a dança dos capuchos ao vento...nunca antes nós meninos havíamos presenciado tal espetáculo. A neve precipitou-se noite à dentro...após ao jantar, vimos semblantes preocupados ! Ouvíamos o ruído dos “capões de mato”, próximos à casa, quebradeira de galhos de pinheiros e árvores com o peso da neve...logo sentimos estalidos nos caibros de sustentação da casa do Vô Boanerges, principalmente neve acumulando sobre a cobertura de tabuinhas da cozinha ! - Se não limparmos isto, vai desabar a cozinha. Vistam o Tadeu (eu), é o mais leve, ele sobe com a escada no telhado e raspa a neve com a enxada. Boanerges Neto e Nenê (Edison filho), ajudam na escada e recolhem baldes que ele encher de neve ! Ordens dadas, ordens cumpridas. Calçaram-me pequenas botas, cobriram-me com capa de chuva de lã, aquelas usadas por tropeiros, tipo poncho, tamanho para meninos, senti-me super-homem, em missão verdadeira de heroísmo ! - Tadeu – Vai lá – agora é com você – é o homem mais importante nesta casa - Minha Nossa, nunca senti tanto orgulho ! Subi com ajuda de meus irmãos naquele telhado, e raspava a neve rapidamente e enchia baldes e repassava aos manos Boanerges e Nenê (Edison Filho). Não lembro de sentir frio, lembro do entusiasmo e o orgulho...” o Homem da casa “ ! Os caibros de suporte da cozinha, pararam de ranger! Quando descemos e voltamos para o interior da casa, recebemos leite quente com cachaça, “bebida para homem esquentar” – Nem dormi direito aquela noite de tanto “orgulho” . Dia seguinte, belíssimo céu azul, campos encobertos com mais de 20 cm de nível de neve, alguns locais com mais de 50 cm. Descobrimos um mundo para fazer bonecos, catar neve para derreter e ter água para cozinha e fazer café. Às poucas visitas que chegaram no dia seguinte, tudo era novidade. Eu e meus irmãos éramos chamados os “heróis do telhado”... adorava ser chamado e ouvir meu avô discorrer de nossa proeza ! A saudade destes tempos memoráveis, aquecem meu coração. Ouso tomar uma taça de vinho safra especial Aurora, não é cachaça com leite quente, mas é bebida que invade vasos e aquecem um coração cheio de ternura, por Irmãos, Pais, Avós, Primos e tias...na Invernada de cima da Fazenda Santa Rita ! Mundo maravilhoso em belos pagos de São Joaquim SC ! “Bênção Vô Boanerges ! – Bênção de Deus meu neto Tadeu, Você vai ganhar calça-comprida, não precisa mais usar calça-curta... já é “homem”...aquele olhar azul e bondoso de um ancião...mas alto e forte, um palheiro nos lábios e um sorriso inesquecível ! Bênção Vó Angelina - Nada de “bênção” ainda... já lavou aos pés ? Pega a gamela ali, tia Selma vai colocar água quente e você vai lavar estes pés gelados antes dormir ! Certo ? – Sim Vó ! Eu faço ! O efeito da cachaça no leite, derrubavam pálpebras para o sono... água quente nos pés com espuma de sabão de pedra, ardiam os ferimentos de pés ...que muito andavam descalços, nos folguedos e lidas do dia-à-dia da fazenda. “Bênça Vó... bênça Vô... “ Bênça de Deus”...durma com os anjos !