sábado, 22 de junho de 2019

Anjo caído....

Texto de Adilson Tadeu Machado 20 de junho 2019· “ANJO CAÍDO...LITERALMENTE” “ Há 18 anos, participamos de uma ceia em Florianópolis, sempre na véspera de “Corpus Christi”. Reunindo fraternos, numa sessão que celebra a fraternidade e reverencia uma tradição de origem cristã, onde Irmãos se confraternizam no exemplo do “Servir para ser Servido”. Pão ázimo (repartido meio-pão, com as mãos), carne de cordeiro, água e suco de uva para abstêmios, vinho aos que podem (quem foi dirigindo veículo não pode ) ! Lá, reencontrei o Amigo e Fraterno Gilson, pouco mais de 50 anos, detentor da proeza, que ontem recontou-me com detalhes...que tentarei narrar ! Há cerca de 7 anos, esticou o feriado e foi passear com a família na Serra do Rio do Rastro, previsão de tempo bom, céu azul, oportunidade de apreciar a beleza do cenário. Aqueles dias de céu azul, límpido, friozinho característico de pós-geada, vento no rosto, vista maravilhosa, ar gelado que serrano curte e “barriga verde do litoral” fica com os “pelos arrepiados”. Sol lindo e forte, por volta de 17 horas, comeram o pinhão cozido, vendido pelo serrano, no topo do mirante da serra. Resolveram ele e esposa, caminharem, por trilha junto ao penhasco... e descortinarem ângulos daquela vista, que para quem conhece, horizonte amplo...avista-se várias cidades e o mar, fundindo-se no horizonte ao azul celeste ! Sem perceber, Gilson despenca em fenda da rocha,750 metros de profundidade, escondida no alto capinzal, dourado, característico do inverno. - E aí ? Perguntei...Você lembra ? O que pensou ? - Bem...lembro de meus pensamentos, ao sentir-me em queda livre...tudo acaba aqui, estou morrendo ! Nada mais lembro, pois creio que perdi os sentidos. - E quando recobrou os sentidos ? O que percebeu? - Eu estava com a cabeça encostada sobre meu braço direito, e lembro que acordei com frio e pensei : “ Ahh é apenas um sonho...vou mudar de posição e dormir mais um pouco...não era sonho, não encontrei apoio para o braço esquerdo e quase me precipito no abismo definitivo. – Eu estava sobre uma pedra, saliência da parede rochosa, degrau, com pouco mais de 60 cm de largura e talvez 1,5 metro em comprimento, há mais ou menos 20 metros do topo. Qualquer movimento em falso, o mergulho fatal no precipício...seria definitivo. Puxei e minhas pernas, sentado, recostei as costas no paredão, eu estava de camiseta, comecei a tremer e sentir hipotermia. Lembrei-me de fazer exercícios de acelerar a respiração e com isto elevar temperatura do corpo. - “e sua mulher ?” Pergunto ansioso ... - Bem, ela viu-me “sumir” no meio do pasto, como se tivesse sendo tragado e contou-me que “gritei” na queda... - Olhou na fenda e somente via, o precipício e a altitude de dar “tonturas”, a rocha que me amparou ficava fora da visão de quem olha pela fenda... - Desesperada, correu ao posto policial do mirante, pedir socorro. Os policiais não foram logo e iniciaram um interrogatório criminal, para saber se o casal, havia brigado antes, se havia algum desentendimento etc, preencher fichas etc...angustiante. - Afinal quem “despenca” por ali...só se tiver asas...(diz o Gilson). Refutei...”mas você ganhou asas” ...está aqui nos relatando ! Gilson gargalha e diz “Tô mais para anjo caído” . - Ouvi gritos pela fenda, consegui responder e me ouviram, relatei que estava bem, apenas sentia dor um pouco acima do quadril direito, a aparentemente não tinha ossos quebrados. Pediram-me que não me mexesse. “Eu nem tinha para onde mexer...fechava os olhos para não sentir o efeito da altura e orava com toda força. Anoiteceu, eu via o céu, as estrelas...o frio aumentava...curiosamente, o fenômeno diário da cerração, aquele nevoeiro intenso de toda tarde, que cobre tudo e até chuva tipo garôa, não ocorreu. Eu continuava orando com fervor. Ouvi gritos e de outro canto do topo da serra, via clarões de lanternas que pediam que eu orientasse a direção do facho, para saberem em que direção eu estava, pois não me viam, o ponto era cego. O socorro, pelo anoitecer e pelo local, não era possível por helicóptero. Os socorristas vieram de Orleães e Criciúma. - Caí por volta das 17 horas, por volta de meia noite, , surgiram na fenda, usando rapel, dois bombeiros. Dificuldade extrema, não havia como passar uma cesta de transporte, a fresta na fenda e os arbustos nas paredes impediam aquele método. O pedaço de ponta de rocha que me “suportou”, não cabia duas pessoas,e poderia talvez não suportar o peso de mais um, no escuro luz de lanternas, foi preciso, dependurado, vestirem-me e amarrarem com cordas em rapel, e me ajudarem a escalar a fenda em direção ao topo. Único caminho...eu não entendo, na fenda havia local que apenas um de nós, tinha espaço para passar...eles me empurraram, me ajudaram. Eu não tive nenhum ferimento de pele, meus socorristas, ficaram “lenhados”, lesões e ferimentos dos arbustos da fenda. Que alívio quando, chegamos ao topo... “Amigo e Irmão...sou anjo caído, asa esquerda quebrada (fratura) mas voei...nas mãos do Grande Arquiteto do Universo, enviou-me anjos que me trouxeram de volta à vida ! Eu bendigo todos os dias! Graças Meu Deus e Meu Senhor ! “O Mais Vivo dos Fogos...à Vida !”