domingo, 2 de junho de 2019

“POMADA DE BELLADONA”

Hoje acordei com um pequeno furúnculo... incomodando. Após corrida, o roçar da roupa no mesmo local, deve ter irritado raízes do folículo piloso em dobra de pele e pronto...o “Staphylococcus áureus” bactéria parasita da pele, deve ter infectado. Lembrei-me do querido e saudoso, Professor Dermatologista Ruy Noronha de Miranda, cientista, filósofo, escritor ...da Universidade Federal do Paraná, autoridade mundial em Hanseníase. Corria o ano de 1976, havia programado com dois queridos amigos universitários, estudantes de Medicina,(João Batista da Silva e Paulo Sydney Campos Amaro) nossa turma de república, na rua General Carneiro 363...Curitiba, que nas férias de Julho, pegaríamos mochilas e iríamos até La Paz na Bolívia, com o chamado Trem da Morte que ia de Corumbá à La Paz...tudo arranjado. A cadeira de Dermatologia da Universidade Federal do Paraná, nos ofereceu um estágio no Ambulatório de Dermatologia do Hospital de Clínicas, no mês de Julho. Por ser férias, o Ambulatório ficava com poucos profissionais para atender à demanda de Pacientes. Já havíamos feito a Disciplina de Dermatologia...o Coordenador do estágio seria o famoso Professor Ruy Noronha de Miranda. Desistimos da viagem e nos candidatamos. Foi um mês extraordinário...e o nascimento de uma amizade que durou uma vida. Dr Ruy (para os íntimos)...Professor Miranda, para os alunos...antes de enfrentarmos o ambulatório diário, repassava conceitos de Dermatologia teóricos e aproveitava e discorria sobre Filosofia, Poesia e ensinamentos da vida. Leitor e seguidor do Positivismo de Augusto Comte, lembrava-nos que o dístico “ORDEM E PROGRESSO” na bandeira Nacional, era oriundo das teorias positivistas. Serviu na Itália, como oficial médico voluntário da Força Expedicionária Brasileira. Membro da Academia Paranaense de Letras...ler e ouvir Professor Miranda ...era o deleite maior. O amor e o carinho e a humildade, com que atendia seus pacientes, era incomum. Como médico, foi diretor do Leprosário São Roque , em Piraquara, nos arredores de Curitiba, local isolado para os doentes. Fomos com ele visitar ao Leprosário e passando o dia lá, com direito ao almoço no refeitório ! Vivia no leprosário com sua família, tentando com isso combater a discriminação para com os doentes da lepra. Tenho seu livro INTRODUÇÃO À DERMATOLOGIA, autografado. Ainda há pouco encontrei na internet, uma Homenagem do CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO PARANÁ, ao Emérito Professor. Que saudade...ahh...emplastro de pomada de beladona, acelera ao processo de cura do furúnculo. Liguei para Farmácia Catarinense...a “produção consta do bulário...”...mas está “inativa senhor!” ...Professor Miranda...não deve estar gostando, desta indústria farmacêutica que ocupou as manipulações autênticas ! Na formatura de graduação e Medicina, recebi um cartão escrito por ele, para mim, primoroso de cumprimentos(continuo envaidecido) Saudades...muitas ! Texto de Adilson Tadeu Machado.