domingo, 18 de abril de 2021
Texto do Dr. Adilson Tadeu Machado
“Ficou um tributo...uma saudade...uma dor ! “
- Bom Dia Amigo !
- Bom Dia Amigo “G” – (Nome fictício )
- Preciso de sua ajuda ! Tenho um paciente com mais de 70 anos... hipertenso, pré-diabético, testou positivo, o filho está desesperado, quer uma prescrição para Tratamento Precoce ? Pode me ajudar ?
- Posso, mas você tem o prontuário no seu consultório, certo ?
- Sim, mas não estou em Blumenau !
- Sem problemas, avalie qual fase da doença (fase 01, 02, 2A ou 2B ?
- Não sei !
- Fale com o paciente ! Eu repassarei o protocolo Dr Loyolla, Fase 1 e 2, você prescreve !
- Sei, mas estou fora de Blumenau, estou na praia, só amanhã estarei aí !
- O filho tem carro, pode ir buscar ?
- Acho que pode !
- Veja no Whatsapp – enviei os dois protocolos.
- Obrigado, vou ver !
- “G” – Avise-me se conseguiu e a evolução !
- Avisarei amigo... obrigado !
Conheci “G” na faculdade, veterano, cabelos compridos, estilo anos 70. Sempre alegre, bonachão, estudioso, aplicado !
Anos mais tarde, viemos a conviver muito perto ! Exerceu funções de liderança em seus pares no Hospital e em meios empresariais !
“G” volta-e-meia, era nosso convidado no nosso Stammtisch, para jantar. Contou-nos suas “aventuras secretas” nos anos 70. Fôra “ cortador-de-cana” voluntário na Nicarágua, como Universitário, ajudando o “povo” e Ortega ! Pensava que como estudante de Medicina do Brasil, iriam colocá-lo em algum ambulatório. O instrumento de trabalho que lhe deram foi um facão. Muitos dias, sol-à-pino, estudantes “voluntários” de vários países, “ajudando” ao povo, cortar cana. Ria muito, ao contar. O “Feitor”, controlador dos “cortadores de cana”, manuseava um “chicote” tipo Zorro, para acelerar os voluntários mais despreparados com lentidão no corte ! No regresso da Nicarágua, tiveram “direito” pousar em Cuba !
A audiência com “El Presidente”, não houve. Embarcaram de volta pela rota clandestina ! “Dos chamados “anos de chumbo”, só trouxe duas “lambadas de chicote do feitor” ! Assim ríamos das aventuras de “G”.
- Bom Dia “G” ! Como está o paciente de ontem ?
Bom Dia Amigo! Olha... o filho não me procurou mais ! Não tenho notícias ! De qualquer maneira muito obrigado, estou na cidade.
- Nos encontrávamos quase todas as manhãs, na porta da academia de ginástica. “G” até tentara iniciar no nosso grupo das 06:00 às 07:00 horas, mas desistira !
- Dois dias depois desta última conversa (whatsapp), tenho gravado, enviou-me um foto de ipê amarelo, lindo em alguma fazenda do Brasil. Soube à tarde que fôra internado e acompanhamos um drama, como todos à distância, nestes tempos pandêmicos. Muitos dias se passaram, demorei a perceber que “não havia paciente... – o paciente era “G” ! “G” não fizera em tempo e precocidade ! Não me quis revelar, partiu nos deixando a saudade de seu sorriso, seu vozeirão alegre e contador de causos. Muito ouvimos... embora não nos conhecêssemos antes da vida médica, tivéramos tempos paralelos de convívio na Serra, verdes campos e pinheiros ! Fica esta saudade, esta dor no peito...os “protocolos” não chegaram em tempo ? Usou ? Não sei... nunca saberei ! “G” , os olhos marejados e vermelhos, você nos deixou ! Deus o tenha em seus braços ! Nossa gratidão por todos os pacientes que tivemos em comum ! Meu abraço onde estiver !