sábado, 12 de dezembro de 2020
Reminiscências - texto do Dr. Adilson
Reminiscências ...
1966, Vila Militar, Rio de Janeiro, Dezembro... acabara de concluir o curso de Sargento Radiotelegrafista do Exército Brasileiro, completara 18 anos de idade no dia 08. Dia 14 foi nossa formatura. Era o Sargento mais jovem do Exército Brasileiro. Recebi uma flâmula de celebração. Recebi a “missão” de ser o orador da turma. Sempre sobra para o mais “moderno”. Aceitei o desafio. Ontem, falando com o Edson Luiz Sieczka, daquela minha turma, (ele é Engenheiro e vive no Canadá por 20 anos, comentou frases do meu discurso, Sieczka tem uma memória de elefante. Lembramos de todos os colegas. Todos fizeram curso superior. Alguns já partiram para o Oriente Eterno ! O que nos propiciou, foi o fato de nossa atividade era insalubre, nossos turnos diários, com fone de ouvido, para receber código morse e transmitir, nos períodos de folga para repouso, estudamos. Trabalhávamos em horários noturnos, 11 anos de profissão. Hoje sofro de hipoacusia parcial, é o preço. Era época de “Martinho da Vila – e sua música – “Passei no Vestibular” . Martinho era também Sargento do Exército. Atrás da Escola de Comunicações, fica a famosa Brigada de Paraquedistas do Rio de Janeiro. Nos intervalos do curso, assistíamos aos saltos dos paraquedistas que ocorriam no Campo dos Afonsos. Eu sonhava em ingressar naquela Brigada. Os paraquedistas, “desfilavam” com suas “boinas vermelhas”, coturnos marrons, brevê de paraquedista, orgulhosos no peito. Para um jovem, seria mais uma conquista.
Hoje recebi um vídeo, no nosso grupo de veteranos, do acidente com o jovem Aspirante Oficial do Exército, formado dia 7 na Academia da AMAN, num salto em clube civil de Boituva SP, com seu treinador e lamentavelmente, veio a falecer. Um jovem idealista. Acidentes ocorrem em todas as profissões, mas veio-me à memória, minha ida até a Brigada, poucos dias depois que terminei o curso de radiotelegrafista. Queria instruções de como lá ingressar ! O Sargento que me recebeu, veterano paraquedista, ouviu-me e respondeu: “Meu filho a sua Qualificação Militar, (radiotelegrafista) não está na relação dos que podem se habilitar. Você não é louco de querer, mudar esta sua Qualificação. Você tem uma formação que permitirá continuar estudando, com tempo hábil para isto. Não faça esta loucura”. 📷Levantou a perna da calça, mostrou-me uma longa cicatriz na “canela” de cirurgias que fôra submetido, consequências de acidentes com impacto da profissão no solo, baixou a perna da calça, virou-me amigavelmente, apontou para o portão de saída da Brigada, deu-me um chute no traseiro, e bradou...fora daqui seu “louco”, continue seus estudos ! Você tem a profissão que nós aqui queríamos ter” ! Hoje conjeturando... sonhos e histórias...vida que segue ! Minha Continência ao Aspirante Oficial Reis e sua família enlutada ! Deus o receba nas alturas ! Águia...sempre Águia ! ! Meu discurso iniciava com a frase lembrada pelo Sieczka: "Nem sempre a Razão se impõe ao coração...e neste caso fica prejudicada a Lógica ..."