terça-feira, 1 de dezembro de 2020
Texto do Dr. Adilson Tadeu Machado
Salvador – Bahia !
Era monitor da Disciplina de Reprodução Humana, na Universidade Federal do Paraná, selecionado através de concurso, auxiliava aos professores em preparar aulas, em ambulatório e salas de aula da Maternidade do Hospital de Clinicas, para alunos do 4º e 5º ano de Medicina ! Como estudantes, no 6º ano, nosso Grêmio, encarou ao desafio de produzir um Encontro de Perinatologia (Pediatria e Obstetrícia), trouxemos vários “nomes ilustres”, para conferências. Uma semana de atividades no auditório da Biblioteca, ao lado do Hospital. Para o tema “Gestação de Alto Risco”, veio o então Presidente da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, Professor Domingos Ferreira Machado, saudoso e ilustre Diretor, na época, renomado Instituto de Perinatologia da Bahia. Salvador BA. Simpático, nossa empatia foi mútua, acompanhei-o, como motorista de fusca, carregando o Ilustre Catedrático Professor, por todos os compromissos em Curitiba. Ele chamava-me de “Machado”. Ao término do Encontro de Perinatologia, convidou-me para fazer Prova de Residência Médica para seu Instituto ! Fui fazer a prova. Aprovado. Permaneci em Salvador-BA , no IPERBA 1978 e parte de 1979. Foram tempos de aprendizado. Trabalho intenso. Integrado ao grupo de Residentes e Professores, fui convidado, a frequentar outros Serviços, quando no período de folga. Assim estive no SAMES, Hospital do Bonfim, e prestando “Auxílio de Cirurgia”, a professores do então Hospital Espanhol, Hospital de Clinicas da Federal. Convivemos com Dr. Elsimar Coutinho, Mestre em Reprodução Humana. Dr Jaime Miguel Lessa, Valter Cunha, Lygia Cunha...e tantos nobres professores Bahianos de Estirpe. Amigos de toda uma vida ! Dr Lessa, convidou-me frequentar como voluntário, aos domingos, à Maternidade Tsylla Balbino, que atendia à população carente de Salvador, sem SUS.
- “Paraná”- (era meu apelido – eu era originário de Curitiba). “Vai conosco, aos domingos lá ! Você verá “doenças básicas”, em Obstetrícia, você terá muita “vivência” prática de doenças que estão abolidas em “Hospitais Particulares” ! Assim fizemos. Era Jornada de 24 horas, equipe de um Professor chefiando o Plantão, Médicos, profissionais, médicos residentes, sextanistas, quintanistas, verdadeiro Exército de colegas e futuros colegas. Partos, Cesareanas, Histerectomias e Curetagens ! Centro cirúrgico e obstétrico a todo vapor ! Dia e Noite ! Sem honorários, voluntários pelo aprender ! Alguns há anos voluntários, pelo “Amor à Causa” !
Uma enfermaria, exclusiva, para atendimentos de pacientes vítimas de “aborto provocado” ! Na época 14 leitos. “Queixa típica de então: “caí na ladeira e estou com sangramento”. Ao chegar na recepção, o diagnóstico era antecipado pela visão da face, paciente jovem, esgar de dor na face, mão sobre o abdômen, “sinal clássico para abortamento ou tentativa” . Muita das vezes, não havia mais leito livre para estas pacientes. Acomodava-se então como “Valete”, duas pacientes no mesmo leito, porque o pós operatório de Curetagem, pela anestesia geral, poderia ser liberada com menos de 12 horas de internação. Sim, ali vimos quadros como Gravidez Abdominal, onde o feto se desenvolveu no abdômen, fora da cavidade uterina. A placenta implanta-se nos intestinos. Após a cesariana, liga-se o cordão e a placenta é mantida no abdômen. Se você tentar retirar, a mãe sucumbe pela hemorragia. Situação dramática. Vi dois casos. Uma paciente sucumbiu. Não havia ultrassom, o diagnóstico era exame clínico e vivência. Manobras de Leopold, indicavam parte do diagnóstico ! Nesses plantões, o bairro chama-se Baixa do Quintas, havia uma bahiana, vestida tipicamente que chegava, por volta das 04:00 horas da matina, vender mingau de Tapióca ! Era a alegria dos Residentes e Estagiários, ali aprendi a apreciar à Tapióca ! Boa Terra – Bons Bahianos – Saudades de um tempo, não havia “horas extras”, nem se pedia ! Compromisso com o Saber !